Eu chamo-me Carlos Jorge Martins Faria, nasci em 10 de Fevereiro de 1960 em Moçambique na antiga cidade Lourenço Marques, com o nome, após o 25 de Abril, de Maputo, terra que me marcou bastante, embora muito jovem até aos 14 anos as memórias boas são tantas e apenas duas más. Se estiver a ler a minha biografia não se canse de ler, porque tenho todo o prazer de lhe contar todas as coisas que me marcaram na minha infância. E então foi assim, sentia que a minha família era muito unida, os natais era passados com os meus tios, tias, primos, primas, pai, mãe, irmão e irmã, nunca os contei, mas éramos imensos. Nos aniversários a situação era a mesma, o meu pai por vezes um pouco ausente, no dia-a-dia, mas estava sempre presente em imensos momentos, íamos passear ao domingo, viajávamos para outros locais, como por exemplo para as melhores praias de Moçambique (que ficavam a centenas de quilómetros), levava-nos a mim, aos meus irmãos e aos meus primos ao Drive-in, levou-me também muitas vezes ao seu trabalho, que era um sitio muito grande onde brincava com a minha irmã, também me lembro que no Carnaval levava-me as cavalitas, e recordo-me de levar com uma bola de farinha, no qual achei divertido, íamos ao jardim zoológico, ao jardim Zambi, onde havia a casa do Minho e apreciava o meu pai dançar com a minha mãe. Já agora, a minha mãe foi a melhor mãe do mundo e recordo tudo de bom que se passou, até acontecer uma das duas coisas negativas que fazem parte desta história mas isso fica lá para frente porque a minha mãe é que esteve sempre presente quando estive doente, me deu educação do que estava certo e errado, falou-me da droga e deu-me alguns conselhos sobre sexo durante a adolescência. Deu-me o amor necessário que um filho precisa. Acho que não me alonguei, ficou muita coisa por dizer sobre os meus pais e voltando á minha infância, tenho que dizer que tinha muitos amigos com os quais brincava na rua á cabra cega, ás escondidas, ao lenço, fazia corridas, saltava a corda e andava de bicicleta (situação sobre o qual tenho uma surpresa para contar mais adiante). Á noite, brincava com a minha irmã e ás vezes, que não foram poucas, com primos que ficavam lá por casa. Com a minha irmã tenho muitas boas recordações em que ela participou nas brincadeiras com os amigos que citei anteriormente, e também nas saídas que tínhamos com os meus pais. Não vou falar muito do meu irmão pois muitas pessoas não aceitavam e não compreendiam porque havia naquele tempo uma exclusão social por ser deficiente (paralítico) e tinham pena, mas eu não o via assim, era o meu irmão, só gostava de ter brincado mais com ele, mas lembro-me de embora as diferenças de idade serem curtas, ele andar ás minhas cavalitas. Portanto, fui muito feliz, diverti-me e ri-me muito, se chorei foi de certeza de dor por me ter aleijado, numa queda ou numa operação que fiz aos 10 anos ou uma dor de dentes, coisas naturais não acham?. O que não me esqueço, depois do que vos contei em síntese, porque enchia folhas de alegria, foi quando voltei para Portugal em 1975 e fui eu e os meus irmãos para Esposende, (uma vila no norte). Na casa dos meus avós onde havia fartura de alimentação, ovos frescos, leite que eu próprio as vezes retirava da vaca, assisti e participei ao desfolhar do milho, na matança do porco, vindima, fui a muitas festas na região, senti o amor de família e éramos muito unidos num grande casarão, também fiquei fascinado com a televisão, porque não a tínhamos em África. O meu avô fazia questão que todos os seus netos ao domingo de manhã assistissem a missa, no qual eu achava interessante talvez por ter tirado a primeira comunhão e de estarmos todos juntos. O que tenho mais para contar?. Adorava bicicletas e lembro-me dos meus avós me darem uma para poder ira a escola que ficava a dois quilómetros donde vivíamos, que fazia-o com prazer e não com sacrifício. Apôs ter esta vida maravilhosa, tomei a decisão de ir viver com o meu pai, acho que já perceberam que eles estavam separados e esta situação foi uma das duas más memórias que tinha falado anteriormente, não me vou alongar porque me trás más recordações , discussões constantes entre o meu pai e a minha mãe , o meu pai saiu de casa, voltou, tornou a sair e deu origem ao divorcio, mas são águas passadas e voltando ao que estava a contar, quando fui para casa do meu pai , apanhei um ambiente calmo, até bastante sereno e éramos 5 pessoas, o meu pai, a mulher dele a Rosa, a sua irmã a Fernanda, e minha irmã Tanya ainda criança, mas passado poucos meses vieram os pais da mulher do meu pai, irmãos, tios, primas, filhos (Sérgio e Cláudia) e foi uma vida durante mais ou menos um ano no qual não quero dizer muito mais além que passei fome, dormi no chão, porque era o meu pai o único que trabalhava e eu ocultei-lhe a situação mas depois de algum tempo de lhe contar passou a dar-me uma ligeira mesada para eu poder comer qualquer coisa na escola e comprou-me uma cadeira de praia para eu poder dormir em melhores condições. Penso que acima de tudo, na minha vida tive sempre ao meu lado a minha mãe, o meu pai, os meus irmãos, menos vezes a Tanya devido as circunstancias, mas dei-lhe todo o meu amor e carinho durante a sua infância e adolescência, o mesmo se aplicou ao meu primeiro filho, hoje já com 26 anos, por me ter separado da sua mãe quando tinha apenas dois anos de idade, mas não quer dizer que não os ame e que não faça tudo por eles dentro do meu alcance. Tenho um tio com o nome de José Manuel, também contribuiu bastante na minha vida, tem-me dado muitos concelhos úteis ao longo da vida e teve uma grande influência por eu ser hoje do Benfica. O meu filho mais novo Ricardo com que vivo tem 18 anos , no passado não tive tão presente na vida dele, em parte devido ao trabalho, mas nos últimos anos tenho estado mais ao lado dele dando-lhe concelhos, falando da vida, sexo, emoções, comportamentos, amizade etc., ele acha que não, mas tenho pena que ele passe muito tempo no computador, tirando tempo a vida de coisas boas que podia usufruir. O Ricardo nasceu numa democracia, mas trinta anos antes eu nasci numa ditadura, naquela altura o presidente era Américo Tomás. Não havia liberdade, existia a PIDE, havia muita pobreza, a situação em Portugal era assim mas felizmente em Lourenço Marques onde eu vivia, nunca dei conta destas situações ou outras, mas lembro-me ser muito criança, e na visita do primeiro ministro Marcelo Caetano estavam milhares e milhares de pessoas de bandeirinhas na mão, inclusive eu a saudá-lo, foi emocionante. Não sei se tinha a ver com politica, questões sociais, matrimoniais, financeiras, doença ou outras questões pessoais mas a minha segunda memoria má foi quando um certo dia com apenas 9 anos vi um negro enforcado no terraço do prédio onde eu vivia, (era um dos empregados do prédio) foi uma imagem que até os dias de hoje não consegui esquecer. É suposto ser em casa onde eu devia sorrir mais, mas infelizmente é no trabalho onde mais riu com os meus clientes e amigos, e também gostava de ver as pessoas a sorrir mais nas ruas, até os jovens de hoje riem-se pouco, o que me preocupa bastante. Penso que os governantes de todo o mundo têm o dever de se reunirem para debater e estudar a forma para resolver a situação da fome, pobreza e ecológico (protegerem mais o ambiente) no mundo e que não pensassem só neles, sendo o que se tem passado ao longo nas ultimas décadas. Também penso que os milionários que existem no mundo inteiro (que surgiram de politicas erradas dos vários estados) deviam ajudar na pobreza, porque ninguém precisa de tanta fortuna para viver, e é a razão pela desigualdade social nos povos. Pessoalmente não tenho nenhuma preferência partidária, e ao longo da minha vida tenho feito a minha escolha de voto não no partido mas sim no individuo, aquele que ao longo da campanha eleitoral que me faz ficar persuadido por ser o mais inteligente e por isso me dá mais garantias de fazer uma boa governação, mas mesmo assim já verifiquei que não tiveram sucesso politico nem uma boa gestão para o país. Tenho que tratar de mim e dos meus, por isso a minha prioridade de imediato é concluir o 12º ano para poder ter mais oportunidades de trabalho, evoluir como homem, tornar-me mais culto. Embora já não seja um individuo novo, sinto que tenho que lutar pela vida tendo como prioridades obter um emprego na área da contabilidade, e manter a minha loja de CDs como hobbie. Voltando ao assunto da politica mais uma vez, lamento que a competência destes senhores seja muito má, porque passam-se anos e anos e não saem leis na defesa dos direitos de autores dos músicos, é permitido tudo, downloads sem limites, cópias, pirataria, etc., num mundo moderno não é normal, existe uma falta de controle para resolver esta situação, e que por tabela influenciou o meu modo de vida, tendo mais dificuldades financeiras, tenho muita pena se tiver que encerrar a minha loja porque é uma das coisas que mais gosto de fazer, adoro ouvir musica, é um mundo sem fim que me faz sentir sempre bem e na maioria das vezes compreendo melhor a musica do que as pessoas. Mudando de assunto quero acabar com um momento radioso da minha vida. Quando eu tinha 12 anos, em África tinha um criado com apenas 17 anos que o considerava o meu melhor amigo, era ele que tomava conta de mim e dos meus irmãos, esteve sempre presente nas minhas brincadeiras, dava-mos voltas à cidade de bicicleta juntos, não tínhamos segredos, ajudávamo-nos um ao outro a resolver os nossos problemas, até com as namoradas saíamos juntos, mas no dia que a minha família ia voltar de vez para Portugal, até a minha mãe queria que o Justino viesse connosco, mas devido ao regime politico não era possível um moçambicano sair do seu país, uma grande magoa que me acompanha ainda até aos dias de hoje.
domingo, 4 de janeiro de 2009
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