quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

ILSE LOSA - O MUNDO EM QUE VIVI


A bisavó da Rose chamava-se Katarina e tinha como características físicas uma testa alta, olhos grandes, pescoço alto e usava uma trança a contornar-lhe a cabeça. Por sua vez, o seu filho Markus, avô de Rose, era alto e magro, tinha uma cara larga, um tanto avermelhada mas bonita; olhos claros e quase sempre tristes; um bigode pendente; cabelo farto; e um penteado cuidado. Era um homem bondoso e meigo, tendo demonstrado as suas emoções na morte da sua filha Gertrud. Tinha o hábito de levantar as sobrancelhas quando discutia um assunto importante e o vício do cachimbo. Era religioso, costumava rezar após as refeições. Era divertido e apreciava de uma boa anedota. Tinha um bom coração, gostava de oferecer brinquedos à neta e dar-lhe conselhos, confortando-a de que seria uma boa mãe, ao vê-la a brincar com a boneca: era a boneca mais linda do mundo!
A sua avó Ester era uma pessoa baixa, de cara sulcada de rugas e cabelo branco penteado para cima da cabeça. A sua personalidade era muito vincada. Era uma pessoa muito trabalhadora: limpava, cozinhava, lavava a roupa, entre muitas outras tarefas domésticas, para as quais rejeitava qualquer ajuda, principalmente na cozinha. Era muito poupada, por exemplo, fazia bolos de batata e com os pedacinhos que sobrava fazia sopa. Mas graças às suas poupanças ajudava a sustentar a família. Era uma pessoa fria, nem no dia em que teve conhecimento da morte da filha conseguiu verter uma lágrima. Tinha um hábito diário, o de dormir uma sesta de 15 minutos junto à janela onde floria a roseira americana. Era controladora, forreta ao ponto de não consentir que se gastassem fósforos para acender o candeeiro de gás, ou o cachimbo do avô, tendo o fogão aceso para fornecer lume. Tinha um lado bom, nunca se esquecia do aniversário do marido e da neta.
Verifiquei a existência de discriminação social, mas apenas no passado, como explica o avô: "Não era permitido aos judeus viverem e trabalharem com o que lhes apetecesse ou desse prazer, eram forçados ao isolamento em vielas escuras e só se podiam dedicar a determinados negócios". Quem não pertencesse à religião católica e tivesse uma religião diferente era descriminado, mas os judeus têm fé e orgulho na sua religião. Também havia desigualdade entre os sexos determinada pela religião. Os homens na igreja sentavam-se em baixo, na sua própria secção, e até tinham cerimónias juntas. As mulheres tinham que subir as escadas para as galerias, ficando separadas dos homens, sendo descriminadas nesta situação.
O pai de Rose foi ferido na guerra e foi declarado incapaz de continuar a combater, pelo que voltou para casa. Era negociante de cavalos, fazia-o por tradição de família e porque o seu pai já não podia fazê-lo devido ao coração fraco. Era o filho mais velho de Markus e Ester, e enquanto pai da protagonista teve pouco relevo.
O tio Josef era moreno e bonito. O seu desejo era ser actor, mas a sua mãe Ester não aprovava porque considerava uma profissão imprópria para um rapaz que se preze.
Gertrud, a filha de Marcus e Ester, tia de Rose, era vaidosa. Gostava de ser fotografada, era casada com Speer e tinha uma filha com o nome de Florence. Tinha o desejo de estudar medicina, mas Ester, mais uma vez, reprovava, achando que um curso de medicina era dispendioso. Para ela, um curso de enfermagem ficava bem mais em conta.
O seu tio mais novo de nome Franz, após a guerra sentiu um enorme alívio e satisfação, e achava que era uma desgraça ser-se judeu.
Por fim, Rose, era uma menina de cabelo louro, com feições infantis, curiosa, inteligente, mas por vezes confusa. Tinha sempre a ajuda do avô quando estava com dificuldades para perceber uma palavra. Quanto à avó, não a compreendia. Ester não cumpria com a palavra quando prometia uma boneca e depois lhe dizia que os tempos estavam difíceis, faltando ao prometido. Por outro lado, mais confusa ficava ao ouvir a avó repreender o avô, dizendo-lhe "não mintas como uma criança". Rose pensava então para ela, "será que só as crianças mentem?". Quando via a avó dormir lembrava-lhe um pássaro morto. E enquanto o avô a levava para a cama às cavalitas, cantava e contava-lhe histórias.
Nesta história existem também desigualdades sociais entre Rose e as suas amigas, em que ela era a mais pobre. Tinha que usar sempre meias pretas "económicas" porque não se sujavam tanto como as brancas, não precisavam de ser lavadas tantas vezes e por essa mesma razão gastavam-se menos. Também verifiquei um comportamento de discriminação das crianças em relação a uma senhora, apenas pelo seu aspecto. Mas Rose, depois de conhecer a senhora, sentiu que era uma pessoa como as outras, embora a amiga com quem comentou não se tivesse mostrado muito interessada em saber a verdade.
Concluindo, encontrei diversas situações de discriminação - de religião, entre sexos, de estatuto social e pelo aspecto - e o que me chamou mais a atenção em relação a esta família é que as memórias predominantes de Rose são dos seus avós. http://lua.weblog.com.pt/arquivo/cat_fotos.html














Sem comentários: